O
corregedor nacional de Justiça, ministro Humberto Martins, encaminhou, nesta
quarta-feira (3/7), ao ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal
Federal (STF), informações sobre a Recomendação n. 38 da Corregedoria Nacional de Justiça. O
normativo, de 19 de junho de 2019, dispõe sobre a necessidade de observância
das decisões proferidas pela corregedoria, ainda que existam ordens judiciais
em sentido diverso, salvo se advindas do STF.
No
documento encaminhado ao ministro do STF, relator de dois mandados de segurança
impetrados contra a Recomendação, Humberto Martins destacou a competência da
Corregedoria Nacional de Justiça e a preocupação do órgão com a preservação da
harmonia do sistema de fiscalização e correição do Poder Judiciário nacional.
“O
correto e adequado exercício dessa competência pressupõe que o corregedor
nacional de Justiça, ao exercer sua função correicional nos limites do que determina
o artigo 103-B, parágrafo 5º da Constituição Federal de 1988, tenha o poder de
executar e de fazer executar as ordens e deliberações do CNJ”, disse o
ministro.
Competência constitucional
No
mesmo sentido, e sempre com a intenção de viabilizar o correto exercício das
competências constitucionais da Corregedoria Nacional de Justiça, Martins
ressaltou que o artigo 106 do Regimento Interno do CNJ dispõe que o ministro
corregedor poderá determinar à autoridade recalcitrante o imediato cumprimento
de decisão ou ato seu, quando impugnado perante outro juízo que não o STF, sob
as cominações do disposto no artigo 105 do mesmo regimento.
“A
preocupação com a coerência do sistema correicional nacional não se revela
apenas e tão somente pelo que dispõe o regimento interno do CNJ. A Lei n.
8.437/92, em seu artigo 1º, parágrafo 1º, estabelece que não será cabível, no
juízo de 1º grau, medida cautelar inominada ou a sua liminar, quando impugnado
ato de autoridade sujeita, na via de mandado de segurança, à competência
originária de tribunal”, afirmou o corregedor nacional.
Preservação da autoridade
Humberto
Martins destacou ainda que a necessidade de preservação da autoridade do CNJ e
da obediência à hierarquia da pirâmide judicial justificam o teor da
Recomendação. “Busca-se evitar situações em que o órgão constitucionalmente
incumbido da função de fiscalizar e punir autoridades judiciais seja
desautorizado por decisão proferida por autoridades que estão sujeitas à sua
fiscalização correicional”, salientou o ministro.
O
corregedor nacional citou, como exemplo, o caso em que um juízo de primeiro
grau anulou decisão do Pleno do CNJ, que aposentou compulsoriamente magistrado
por acusação de venda de sentenças, e determinou sua imediata reintegração no
cargo. A decisão foi objeto de mandado de segurança no STF que, por unanimidade
dos membros da 1ª Turma, reconheceu a inexistência de ilegalidade da referida
decisão.
“Mas,
mesmo depois da chancela do STF, a decisão do CNJ foi objeto de impugnação
perante o juízo federal de primeiro grau, que determinou a reintegração do
magistrado”, frisou Martins.
Subversão hierárquica
O
corregedor nacional também citou a preocupação de ministros do Supremo Tribunal
Federal, inclusive de seu presidente, ministro Dias Toffoli, com a ocorrência
de subversão hierárquica em âmbito administrativo, com a submissão ao juízo de
1º grau de decisões disciplinares do CNJ.
Segundo
o presidente do CNJ e do STF, “ a competência originária do Supremo Tribunal
Federal deveria ser mantida em todas as ações relativas às atividades
disciplinadora e fiscalizadora do conselho que repercutam frontalmente nos
tribunais ou seus membros, ou seja, que digam respeito à autonomia dos
tribunais ou ao regime disciplinar da magistratura (Questão de Ordem na AO
1892)”.
O
ministro Luís Roberto Barroso acompanhou esse entendimento, afirmando que
“[...] passar-se automaticamente a competência, em relação aos atos do CNJ,
amplamente para o primeiro grau de jurisdição, criaria um risco de subversão da
posição constitucional do CNJ, submetendo decisões suas aos próprios órgãos
judiciários que tenham sido eventualmente afetados por suas decisões, que
também considero uma inconveniência quando não uma impropriedade (Questão de
Ordem na AO 1892)”.
Assim, o ministro Humberto Martins concluiu que é necessária a preservação da coerência do sistema correicional nacional, evitando-se a subversão hierárquica em âmbito administrativo e a perplexidade da sociedade com a reversão de decisões do CNJ por órgãos judiciais que não teriam competência para analisar a legalidade dos atos praticados por esse órgão superior apontado como coator.
Fonte:
CNJ