Um mundo em rápida transformação, com a sociedade e
os costumes afetados por novas tecnologias, exige uma revisão do estatuto que
rege a cidadania e a vida do cidadão no Brasil: o Código Civil (Lei 10.406, de
2002).
Essa avaliação é do ministro Luis Felipe Salomão, do
Superior Tribunal de Justiça, que presidiu a comissão de juristas que
apresentou ao Senado, em abril, um anteprojeto do Novo Código Civil. Ele tratou
do assunto em entrevista à série Grandes Temas, Grandes Nomes do Direito. Nela,
a revista eletrônica Consultor Jurídico conversa com alguns dos nomes mais
importantes do Direito e da política sobre os temas mais relevantes da
atualidade.
“O mundo mudou radicalmente, os costumes, a
sociedade, a inovação, o impacto das novas tecnologias, e, claro, isso reflete
na nossa vida civil, porque o Código Civil é o estatuto do cidadão, da
cidadania. Ele está no nosso dia a dia desde a hora em que você acorda. Passa
pela sua vida inteira: pelo casamento, pela constituição da sociedade, pelas
suas atividades, passa até por além da vida, porque é um código de regência
para sucessão, para o testamento”, observou Salomão.
“Nós precisamos, como fazem todos os países
avançados do mundo, passar a limpo, neste momento, alguns desses dispositivos
do estatuto que rege a vida do cidadão. Alguns temas são novos e muito
candentes, como, por exemplo, os novos arranjos familiares, a questão do
direito animal, a questão da inteligência artificial.”
Nas mãos do Senado
A comissão presidida pelo ministro, que é também
corregedor nacional de Justiça, foi instalada em agosto do ano passado, por
determinação do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Cabe agora ao Senado,
presidido por Pacheco, dar continuidade à análise da proposta, que altera
metade dos dispositivos do Código Civil, segundo Salomão.
“No Direito Comercial, nós tentamos incrementar o
empreendedorismo e destravar a burocracia para o desenvolvimento de empresas.
Na parte dos contratos, nós precisamos nos adaptar à realidade atual, de smart
contracts e contratos celebrados à distância pela internet”, afirmou o
ministro, ao listar as mudanças.
Para ele, a inovação mais importante é a inserção de
um capítulo no Código Civil dedicado exclusivamente ao Direito Civil Digital,
que dialoga também com outras normas.
“É uma inovação grande. Poucos países no mundo têm
esse capítulo para tratar de Direito Digital”, disse Salomão, citando que o
texto trata, entre outros pontos, de direito ao esquecimento e de desindexação.
Fonte: Conjur